5 – 9 de ago. de 2019
Fuso horário America/Sao_Paulo

Efeitos da temperatura no ritmo de um centro gerador de padrões biológico

Não agendado
20m
Iniciação Científica

Palestrante

Sr. Renan dos Reis (IFSC, USP)

Descrição

Geradores de padrões centrais (CPGs) são pequenas redes neurais especializadas em produzir padrões periódicos e robustos para controlar atividades rítmicas musculares. Eles trabalham de modo quase autônomos, com influência de moduladores nervosos e químicos que enviam informações sensoriais apenas para sintonizar os padrões a um propósito específico. Um exemplo modelo para estudos de CPGs é o gânglio estomatogástrico (STG) dos crustáceos. O STG é um gânglio responsável pelos movimentos ritmados dos músculos pilóricos de crustáceos e ele tem seu ritmo modulado pelos gânglios comissurais (COGs), além dos sensores táteis no estômago, neurônios descendentes do cérebro do animal e às aminas e neuropeptídios excretados na hemolinfa pelos órgãos pericárdicos. Apesar desses inúmeros moduladores, o sistema apresenta um ritmo robusto a perturbações ambientais, como, por exemplo, a variações de temperatura do corpo ou do sistema nervoso estomatogástrico, do qual o STG e seus moduladores nervosos fazem parte. Estudos anteriores mostram que a frequência do ritmo pilórico aumenta proporcionalmente à temperatura, mantendo a fase dos padrões musculares. (1-2) Este trabalho busca identificar se esse comportamento em relação à temperatura se deve ao STG ou a seus moduladores. Com esse fim, animais da espécie Callinectes sapidus foram imobilizados e, por meio de uma sonda endoscópica e um sistema de aquisição de sinais, foi aferido a frequência de contração dos músculos estomacais do animal, gerado pelo STG, em função da temperatura estomacal, corporal e ambiental a qual o animal está exposto. A sonda endoscópica é composta por um tubo de plástico flexível que comporta espaço para um fluxo incidente de água, um termopar para medição da temperatura estomacal e duas fibras ópticas conectadas, respectivamente, a uma fonte de luz e a um sensor fotovoltaico. Enquanto as medidas de frequência eram coletadas, água à temperatura controlada foi injetada no estômago do animal de forma a expor o STG, localizada nas imediações do estômago, a uma temperatura diferente da temperatura nos COGs, localizados próximos à boca e controlados pela temperatura corporal e bucal. Os dados coletados foram analisados utilizando modelos matemáticos tradicionais, como cálculo do fator Q10, e evidenciam uma relação de independência entre a frequência do ritmo de contração pilórico e o seu gerado, STG, isto é, variações positivas ou negativas da temperatura não causavam alterações no ritmo pilórico. Esses resultados, comparados com estudos anteriores, indicam que a frequência se altera em resposta à temperatura dos sistemas moduladores, relação a ser explorada nos próximos experimentos do projeto. Essa é uma situação muito rara dada a forte correlação entre o funcionamento de sistemas biológicos, principalmente na relação entre músculos e neurônios, com a temperatura. Isso levanta a hipótese de que os diversos processos bioquímicos antagonistas para criar esse padrão tenham relações contrárias à temperatura do STG (3), formando um sistema de compensação local que mantém o ritmo a uma frequência de equilíbrio apesar da temperatura. Esse sistema, então, seria influenciado diretamente pelos neuromoduladores, que possuem sinais dependentes de suas próprias temperaturas e, assim, poderiam modificar a frequência de equilíbrio do CPG pilórico como observado em outros estudos.

Referências

1 TANG, L. S. et al. Robustness of a rhythmic circuit to short- and long-term temperature changes. Journal of Neuroscience, v. 32, n. 29, p. 10075-10085, 2012.
2 SOOFI, W.; GOERITZ, M. L.; KISPERSKY, T. J.; et al. Phase maintenance in a rhythmic motor pattern during temperature changes in vivo. Journal of Neurophysiology, v. 111, n. 12, p. 2603-2613, 2014.
3 ROBERTSON, R. M.; MONEY, T. G. A. Temperature and neuronal circuit function: compensation, tuning and tolerance. Current Opinion in Neurobiology, v. 22, n. 4, p. 724-734, 2012.

Apresentação do trabalho acadêmico para o público geral Sim
Subárea Biofísica

Autor primário

Sr. Renan dos Reis (IFSC, USP)

Co-autor

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