5 – 9 de ago. de 2019
Fuso horário America/Sao_Paulo

Uma análise crítica do suposto pioneirismo galileano da matematização da natureza

Não agendado
20m
Mestrado

Palestrantes

Sr. Ciro Ferreira (IFSC-USP)Dr. Cibelle Celestino (IFSC-USP)

Descrição

A Revolução Científica dos séculos XVI e XVII é costumeiramente considerada como o evento fundador da ciência moderna, que teria se originado a partir de um rompimento com a cosmovisão aristotélica. No caso da física uma das questões que contrastariam o pensamento antigo com aquele que teria surgido durante a revolução seria a aplicação da matemática à natureza. O primeiro se limitaria a uma descrição qualitativa dos fenômenos, enquanto o segundo usaria leis quantitativas e estruturas matemáticas. Entretanto, o papel que diferentes historiadores atribuem à matematização no estabelecimento da ciência moderna varia. Por exemplo, Dijksterhuis (1892-1965) entendia a incorporação da matemática como o elemento central da emergência da ciência, pois essa oferecia a ciência uma linguagem precisa que permitiria a checagem de suas afirmações com o mundo empírico e uma melhor descrição deste. Em contraste, Koyré (1892-1964) via a matematização como aspecto subsidiário da ciência moderna, afirmando que esta se distinguia da filosofia antiga ao postular um universo infinito, contrário ao cosmos finito e ordenado aristotélico. Além disso, para Koyré a matemática não era apenas uma linguagem descritiva, como no caso de Dijksterhuis, mas sim reveladora da essência da natureza(1).Uma semelhança que muitas abordagens historiográficas possuem é a menção de Galileu Galilei (1564 - 1642) como personagem de destaque nesse processo, as vezes adquirindo status de pioneirismo. Nosso objetivo é problematizar este status e a suposta descontinuidade entre filosofia antiga e ciência moderna imposta pelo pensamento galileano, e mostrar que a veracidade destas afirmações é submetida a perspectiva historiográfica adotada.Visando estipular a posição adequada de Galileu nesta questão iremos ressaltar as contribuições de seus predecessores, tanto em relação a matematização de fenômenos específicos quanto a desenvolvimentos filosóficos da relação entre matemática e natureza. Analisaremos também quais empecilhos à matematização permaneceram mesmo após a obra de Galileu.Mencionamos então, brevemente, exemplos de cada um desses fatores. Quanto à matematização de fenômenos, cito os estudos de balística de Niccòlo Fontana Tartaglia (1500-1557), que utilizava objetos geométricos para modelar a forma da trajetória de um projétil.(2) Quanto aos desenvolvimentos filosóficos podemos citar a própria filosofia aristotélica, que não era completamente intransigente ao uso da matemática nos estudos da natureza como se crê frequentemente. Isso é atestado pela existência da disciplina matemáticas mistas no corpo de conhecimentos aristotélicos, espécie de subdisciplina matemática que incluía dados empíricos em suas premissas. Entretanto as premissas empíricas e matemáticas deveriam estar sujeitas a uma determinada hierarquia.(2) Por último mencionamos uma resistência à obras exageradamente matemáticas que ocorreu após a publicação dos Princípios matemáticos de Newton, dizendo que tal linguagem restringiria demasiadamente o número de pesquisadores capazes de estudar esse assunto, dada a baixa familiaridade dos autores da época com uma matemática tão rebuscada; além de outras críticas de caráter epistêmico e ontológico.(3)Em posse destas considerações, e levando em conta uma pluralidade de perspectivas historiográficas, discutiremos em que medida a afirmação de que “Galileu foi o primeiro a matematizar a natureza” é verídica, ou em que medida é apenas um exagero grosseiro.

Referências

1 COHEN, H. F. The scientific revolution: a historiographical inquiry. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.
2 CPECCHI, D. The Path to Post-Galilean epistemology: reinterpreting the birth of Modern Science. New York: Springer,2018. v. 34.
3 GINGRAS, Y. What did mathematics do to physics? History of Science, v.39, n. 4,p.383-416, 2001.

Apresentação do trabalho acadêmico para o público geral Sim
Subárea Ensino de Física e História da Ciência

Autor primário

Sr. Ciro Ferreira (IFSC-USP)

Co-autor

Dr. Cibelle Celestino (IFSC-USP)

Materiais de apresentação

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